O cancro da mama é a neoplasia mais comum entre as mulheres. As comorbidades relacionadas ao tratamento cirúrgico podem ser amenizadas com a intervenção multidisciplinar, incluindo a reabilitação física preservando a funcionalidade e qualidade de vida das pacientes. A fisioterapia está incluída no plano da reabilitação no período pré e pós-operatório do cancro da mama, prevenindo algumas complicações, promovendo adequada recuperação funcional e, consequentemente, propiciando melhor qualidade de vida (Ferreira et al., 2005).
Os problemas físico-funcionais associados ao cancro incluem, rigidez muscular, dor nas articulações, disfunção cardiopulmonar, dificuldade de mobilidade, alterações nas atividades de vida diárias, e efeitos psicológicos (Bray, Ren, Masuyer & Ferlay 2008).
Existem evidências que demonstram que a atividade física, ou seja, a promoção do movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, tem efeitos positivos e em alguns efeitos colaterais do cancro e de seus tratamentos (Furmaniak, Menig, & Markes, 2016). Também foi demostrado que o exercício físico, aumenta a força muscular, a mobilidade dos membros superiores, melhora a correção postural e  diminui a fadiga (Ferlay, et al 2015; Juvet, et al 2017), bem como, tem efeitos positivos nas dimensões psicológicas e sociais nas mulheres com cancro da mama (Nakash 2014; Singh, 2018).
“A Fisioterapia presta cuidados a indivíduos e populações de forma a desenvolver, manter e restituir o máximo movimento e a capacidade funcional ao longo do ciclo de vida. Preocupa-se com a identificação e maximização da qualidade de vida e potencial de movimento, tanto na promoção, prevenção, intervenção/tratamento, habilitação e reabilitação, abrangendo o bem-estar físico, psicológico, emocional e social. Constrói a sua prática continuamente a partir da evidência científica. Isto torna-se ainda mais evidente no estudo do movimento humano, que é central na prática e conhecimento do fisioterapeuta”. (World Confederation for Physical Therapy WCPT)
FisioDance® é a fisioterapia com dança. Com base em competências de Fisioterapia, Dança Movimento Terapia e Pilates, o movimento é direcionado para a manutenção e melhoria da condição física dos utentes, no sentido da funcionalidade, da qualidade de vida, e da construção de uma vida saudável. São planeados exercícios com objetivos específicos para cada individuo ou população, acompanhados com o poder da mensagem e do ritmo da música para elevar e harmonizar a consciência.
Através da dança promove ganhos em diferentes parâmetros: equilíbrio, coordenação, transferências de peso, lateralidade, condição cardiorrespiratória, prevenção de queda, bem-estar geral, bem como a atividade física regular e lúdica, e combate o isolamento.
Temcomo missão facilitar a criatividade dos doentes com cancro da mamadurante a fase de tratamentos sistémicos, na fase de estabilização de sintomas e na sobrevida.
Objetivos específicos:
- Proporcionar aos doentes com cancro da mama sessões de movimento/dança e outros meios de expressão artística como acompanhamento complementar terapêutico para a sua recuperação, bem-estar e (re)integração social e familiar.
- Aplicar a prática de movimento/dança adequada aos doentes oncológicos, promovendo o contato e escuta corporal (na sua componente física, emocional, mental e espiritual).
- Facilitar sessões de movimento/dança e expressão artística a grupos de doentes com cancro proporcionando aos seus elementos experiências de empatia, interajuda, suporte e socialização.
- Melhorar a capacidade do doente de se expressar, integrar e gerir as emoções através do desenvolvimento da inteligência emocional.
A dança movimento terapia tem sido utilizada para melhorar a amplitude articular e diminuir o edema após mastectomia (Bradt 2011). Bem como no controlo da frequência cardíaca, pressão arterial, capacidade respiratória, no controlo da fadiga e dor, na melhoria da saúde em geral e no ânimo, diminuindo os níveis de ansiedade e os sentimentos negativos, descritos em alguns estudos publicados noutros países tais como Inglaterra, Estado Unidos da América, Alemanha, etc.
Segundo Love S. in Tagliaferri, 2002, o exercício físico, a meditação, a visualização e os grupos de suporte, são tão importantes como a medicação. Atuam através da mudança do meio celular das células cancerígenas, pela terapia hormonal, imunoterapia, nutrição, e terapias de corpo-mente fortalecendo o corpo e o sistema imunitário (Love S. in Tagliaferri, 2002).
Os grupos de suporte, através da autoexpressão, arte e movimento são hoje uma evidência como terapêutica comportamental cognitiva ou mecanismos de coping.
O doente oncológico deve ter acesso a atividades complementares terapêuticas e a grupos de suportecom base no movimento/dança para a suavização dos sintomas durante o seu processo de recuperação.
“Segundo os estudos realizados, a arte afeta o sistema nervoso autónomo, o equilíbrio hormonal e os neurotransmissores cerebrais. Produz-se uma mudança na atitude, no estado emocional e na perceção da dor, conseguindo levar uma pessoa desde um estado de stress a outro de relaxamento e criatividade. Conecta-nos a uma parte mais profunda da nossa psique, onde reside o poder curativo que todos possuímos” (Aguirre, 2007).
Através dos exercícios, e praticando meditação, yoga e dança, percebe-se a importância e o poder da ligação entre mente e corpo (Tagliaferri et tal, 2003).
É com um intuito semelhante que a FisioDance® espera atingir, com base nas guidelines da intervenção da fisioterapia para o tratamento dos doentes com cancro de mama:
- A nível físico, diminuir a dor e o edema, aumentar a amplitude articular, fortalecer o sistema imunitário; melhorar a resistência à fadiga, melhorar a capacidade respiratória e a saúde em geral.
- A nível emocional, melhorar a autoestima e os mecanismos de coping, combatendo a falta de ânimo. Melhorar a capacidade de expressar, integrar e gerir as emoções através do desenvolvimento da inteligência emocional.
- A nível mental, combater o isolamento, as alterações do sono e a dificuldade de concentração, e melhorar a ligação com o seu corpo. Trazer a consciência para o momento presente, integrando a experiência do passado e os objetivos futuros sem que estes gerem uma constante melancolia ou ansiedade.
- A nível espíritual, enfrentar as crises existenciais e encontrar o sentido da vida e da sua unicidade.
As sessões terão um período de aquecimento ou warm up, a prática da dança e o momento de regresso à calma ou cool down. A fisioterapeuta faz no final um momento de reflexão, ensino, capacitação e literacia com a participação dos elementos do grupo.
Paula Cristina Pinto Nogueira – Associação Dançar para a Vida
Doutoranda na Universidade Católica em Ciências da Cognição e Linguagem
Mestre em Fisioterapia ramo especialização na Saúde da Mulher
Pós-Graduada em Neurociência da Música
Fisioterapeuta no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
(20/11/22)

 
											

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